A relação do estresse pós-traumático com os impactos na saúde física e mental, inclusive o aumento do consumo de álcool e outras drogas foi tema de audiência pública pautada pela deputada Ana Paula Siqueira, na Comissão de Prevenção e Combate ao Uso do Crack e Outras Drogas, da Assembleia Legislativa. Os casos dos crimes de Mariana, Brumadinho, além da questão dos efeitos da pandemia foram abordados pelos estudiosos, pesquisadores e convidados da audiência realizada em 5 de novembro.
“Como apresentado na audiência pública, o álcool e as drogas muitas vezes são vistos por pessoas impactadas por traumas como uma forma de anestesiar uma dor, uma angústia e tristeza. O fortalecimento das políticas públicas neste sentido é fundamental para acolher e oferecer medidas intersetoriais de saúde, esportes, cultura, e ações preventivas para garantir a saúde e o bem-estar da nossa população. Não podemos esperar que a sociedade conte apenas com a resiliência, o Estado não pode se omitir diante dessas vulnerabilidades”, aponta Ana Paula Siqueira, que é vice-presidente da Comissão.
A pandemia, que afetou de forma severa tantas vidas registra mudanças nos comportamentos que podem gerar dependência química, além do adoecimento físico e mental da população. O estudo ConVid Pesquisa de Comportamentos, realizada pela UFMG, em parceria com a Unicamp e a Fiocruz, mostra que houve um aumento de 18% no consumo de álcool durante o isolamento social e de 34% em relação ao tabaco, além da alteração de outros hábitos que impactam na qualidade de vida, como explicou a coordenadora da pesquisa, Dra. Déborah Malta.
A audiência também contou com a contribuição da experiência do Dr. Aloísio Andrade, presidente do Conselho Estadual de Políticas Sobre Drogas e conselheiro titular do Conselho Nacional de Política sobre Drogas, que pontuou os reflexos pós-traumáticos do ponto de vista da psiquiatria e da saúde mental, e da importância de pilares como ações de esportes, cultura e outras políticas de prevenção e cuidado.
Cristiane Nogueira, do Conselho Regional de Psicologia, ainda destacou a importância de um olhar para a parte da população mais vulnerável. Já o professor Rony Las Casas, observou a importância da intersetorialidade das ações. Michelle da Costa, do Centro de Referência Estadual em Álcool e outras Drogas (Cread), representou o Estado.
Mariana. A audiência aconteceu no dia em que a tragédia de Mariana completou 5 anos. Ana Paula Siqueira lembrou os efeitos que as comunidades dos municípios atingidos registraram com o adoecimento físico, mental e psicológico, com forte impacto no consumo de medicamentos, por exemplo, para depressão, insônia, ansiedade e até no número de suicídios. “Nossa solidariedade, respeito e homenagem. Jamais esqueceremos”, afirmou a parlamentar.
Em Mariana, a prefeitura relatou o aumento de 160% do consumo de medicamentos para depressão, ansiedade e insônia após o rompimento da barragem de Fundão. Os impactos em Brumadinho também foram significativos na saúde física e mental. Os dados do município mostram que o uso de antidepressivos por pacientes da rede pública de saúde foi, em agosto de 2019, 60% maior que no mesmo período do ano anterior. Em relação aos ansiolíticos, o crescimento foi ainda mais significativo, de 80%, no período.
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